Autorretrato - Capítulo Dezenove - Vidas miseráveis
Do que vale a sua vida se na próxima esquina ninguém se importa com a morte desenfreada que deixamos acontecer, justificando com as políticas da hipocrisia esses abomináveis desenrolares. Enquanto a morte não lhe bate a porta, é possível esquecê-la, analisá-la, perdoá-la, mas é no instante em que ela se torna pessoal que a nossa existência não consegue mais ser a mesma.
Pergunto-me se a empatia chega assim, desavisada, numa trombada, ou se tem gente que precisa de argumentos para entender seu significado. É muito insano brigar pela liberdade alheia, enquanto te enquadram na bicuda do sapato, gozando da liberdade que você mesma incitou. Qual é o limite da realidade?
Parece que a cada segundo destruímos um pouco mais o mundo. Queria que isso fosse uma coisa boa, mas ás vezes me falta esperança aos olhos. Não é possível que existam tantos assassinos. Penso se alguém está livre da miséria que é essa vida. Acredito que sejam os ignorantes, que escondem sua parcela de culpa longe do seu alcance para não morrerem de desgosto de serem o oposto da educação.
Ignorados e marginalizados, a quem cabe a honra da vitória, se estamos numa marcha paralelamente oposta. A tensão está ficando cada vez mais insuportável para mais gente. Mas, ainda assim tem gente ausente. Só queria dizer, Marielle presente.
Porém, no momento em que nos manifestarmos, seja no passado, presente ou pretérito mais que perfeito, vamos ser castrados, pois tem quem não aguente encarar a miséria da vida, pois não sabem fazer seu sustento com honestidade, essa é uma realidade. É preciso se portar como gente civilizada na casa grande, pois os horrores ficam escondidos debaixo do tapete.
A gente tem noção suficiente para não querer Um salvador, queremos vozes. Mas parece que cada voz que começa a ressoar, termina como um eco na vala de um cemitério. Está difícil engolir essa sede, pois há muito já não tem mais recurso que chegue na gente. O pouco que chega, o resto que foi regurgitado pelas grandes empresas, querem que nós lavemos descarga abaixo, pois é muita hipocrisia querer comer o farelo que caiu da mesa.
Estamos numa infindável tristeza, e reclamam de quem reage com firmeza, pois não querem que sua peruca de realeza seja estragada por esse estado de natureza. O sangue já não está mais nos olhos, há muito escorre pelo chão que cheiramos tão de perto. Esperamos de braços abertos os explorados de todo o mundo, mas talvez para alguns, seja necessário mais tempo para enxergar a miséria que nos assola.
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