Autorretrato - Capítulo Dezesseis - Narrativa

    Vou me interromper por um momento para esclarecer que perdi a minha narrativa já faz algum tempo, essa lógica criativa que me estruturava está de ponta cabeça. Não tenho mais o mesmo ritmo de composição, pois perdi um pouco a noção.

    Chorei assistindo um filme de animação, pois me dei conta de que os meus conceitos não eram mais os mesmos, e não percebi como isso aconteceu. Queria ter aquela mesma ingenuidade de sei lá quanto tempo atrás, mas já não tenho a mesma agilidade para acompanhar essa dança.

    Tropeço no meu próprio peso, o que agora só me dá a consciência de que danço sozinha. Enxergo todas as minhas armadilhas. Preciso parar por diversos instantes para respirar. A cada segundo que a vida se estende, percebo o quão pequeno o tempo é.

    Por isso te avisei já no começo, não me desespero mais com o teu desprezo, aprendi a viver as minhas crises com mais realidade, sozinha, e ainda assim repleta de ambiguidades. Sinto que faço menos sentido a cada curva que viro.

    Chego para escrever uma história e me perco por inteiro. A leveza que me acompanha agora foi forjada pelas beiradas, inventei uma costura atravessada e coloquei esses retalhos encalhados com a mais lerda paciência. Achei que sabia narrar contos, mas foram apenas alguns tombos.

    Acho que a diferença está no foco que tomamos com o tempo, pois vamos nos acostumando aos poucos com a sensação de sede. Não é a perspectiva que muda, mas sim a paisagem que escolhemos, já que podemos nos dar esse direito.

    Então deixo aqui a narrativa de tudo que percebo que não sei, apenas para me perder nos pedaços saborosos da minha mente que se esvai lentamente. Já não é tão simples deixar as lágrimas escorrerem.


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