Autorretrato - Capítulo Doze - Questão
Não
consigo entender como voltei para o aconchego das seguranças e me encontro
sozinha. Parece uma piada sofrida do destino, pois com todas essas seguranças
veio uma enorme responsabilidade sem jeito que se esquivava pelos cantos à
procura do primeiro desatento.
Fico
brigando comigo no espelho tentando ver se encontro o porquê perambulando
sorrateiramente debaixo do meu nariz. A raiva e o desespero colidem e me
invadem em uma só protrusão, nem sozinha, mas sem ninguém. Como seria possível
tal feito sem nenhum planejamento?!
Será
tão ridícula essa minha busca por algum insano desejo, que até a vida veio
zombar de mim no meio desse caótico desespero. Já não sei mais quais palavras
repetir aos sussurros para mim mesma,
pois estou num contínuo desencontro.
Só
queria poder estar, e fico a cada segundo desejando isso, com tanto afinco que
perco todos os segundos nos meus dedos, imaginando onde poderia estar se
tivesse um par de asas que me permitisse voar.
Gostaria de poder deixar, de quem sabe
romper todas as barreiras, de me desintegrar, mas acabei por me perder no
caminho, e jurava que tinha voltado para me encontrar, mas não existe volta
quando já se partiu sem pensar.
Deixei
todo o meu bem estar há um tempo atrás, mas ainda estou custando a entender que
não voltei no mesmo lugar, quando me encontro exatamente na sala de estar.
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