Autorretrato - Capítulo Três - Vício

        O coração começou a palpitar antes que a mente pudesse fazer alguma lógica daquela emoção. Pensei por um instante que eram apenas julgamentos, afinal nada tinha efetivamente acontecido. Como saber o limite da realidade e o das nossas invenções julgamentosas?

        Estava sem suporte, tentei buscar ajuda, mas a vida estava me pedindo para lidar sozinha com aquilo. Maldito isolamento! E lá fui eu, querendo simplesmente não existir, querendo ser responsável apenas por mim. Não é assim que a vida funciona sua boba! Os seus traumas vem de berço, e é assustador enxergar isso.

        Estava eu no meio da guerra fria, entre o vício e o feminino, maldito feminino herdado que habita em mim! Só queria estar tranquila. Surpreendi-me com o que consegui fazer, cheguei pisando no chão cheio de cacos e coloquei tudo para fora da casa, e para dentro da alma. Não sabia se era ódio ou tristeza me dominando. Só queria alguém para conversar.

        Retomei-me com um golpe bem dado, pois sou as únicas pernas que tenho. Consciência é uma maldição. Colapsei sem ir ao chão, pois sou as minhas únicas pernas.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Autorretrato - Capítulo Vinte e Nove - Os pedidos lacrimejantes

Autorretrato - Capítulo Trinta e Seis - Permanência oscilante