Autorretrato - Capítulo Seis - Pânico

        O telefone toca e sai de mim toda a paz e centramento que fiquei como uma louca construindo e empilhando pelos cantos. Parece  que não foi base suficiente para manter lá fora a loucura. O coração já estava com sua convulsão em andamento, e só me restou dar um alô.

        Senti você se aproximar suavemente. A cada dia te via parado em algum lugar mais próximo. Queria chegar mais perto e perguntar se vai me encontrar novamente, mas se esse momento chegasse a acontecer sei como vai terminar. Vou ficar aqui então, paralisada a te olhar.

        Estou abismado como saí de um instante tão fabuloso para esse sentimento horroroso. Queria por um segundo que tudo inexistisse. sinto que só estou tendo breves momentos, não consigo me segurar em nenhum lugar, não consigo parar essa queda livre de emoções. Quero independência e um berço para repousar.

        É o fluxo natural da vida passar os cargos de hierarquia, eu só não tinha noção do peso que seria. Não achei que este posto me caberia. Gostaria de ter a simplicidade de deitar a cabeça no travesseiro e cochilar, mas tenho que me arrastar por dimensões para poder apagar.

        Sinto uma frustração ao me enxergar, pois gostaria de estar sozinha com meus próprios pesos ao invés de carregar os demônios genealógicos da boa postura. Fico com raiva de ter que manter essa compostura.

        Se alguém pudesse entender, todo esse pesar e esse sofrer, não haveria motivos para se esconder, mas o que se tenta manter meio as soberanas imagens de boa qualidade, é a guerra de poder que ninguém quer perder.

        Em nome da minha sanidade queria ter me isolado anos atrás, e agora, em nome da ironia, a vida vem mostrar a âncora que me prendeu no pé, para que eu não possa fugir da árvore do bendito fruto.


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