Autorretrato - Capítulo Cinquenta e Um - Cristal
Pendure mais um pedaço da sua alma nesse cabide de horrores sociais e enfie goela abaixo mais um chá da verdade absoluta, todos os seus perigosos questionamentos a deixaram em segundos, é só esperar que a absurda opressão mate todas as suas ideias. Oh minha querida borboleta, só os livros infantis que conseguem ver a sua beleza! Aquela mentira que chamamos de ludicidade é prolongada nas mais descaradas ilusões, e seu doce cor-de-rosa apodrece até que a mariposa repleta de escuridão seja a sua nova face.
Chego
a me engasgar na minha própria gargalhada, essa inocência com que vocês chegam
aqui passa do ridículo, chega a ser um feito humorístico. Vocês conseguem vir
cada vez piores para esse mundo. Afogue a sua genialidade na bebida que te
entreguei ao anoitecer, pois mais uma alienação vai lhe fazer bem à noite, os
anjos caíram para dormir contigo. Tudo isso é maquiavelicamente lindo. Um dia
você terá a capacidade de perceber a magia que é apagar uma luz, sua alma até
respira por um instante.
Ao olhar seus olhos não cogito, nem por um instante se quer, poupar-lhe da crueldade propagada nessa bolsa de valores. Você já entendeu, no momento que entrou aqui, que toda a plasticidade que nasce com a vida é retorcida até a morte. Sente-se ao meu lado e desfrute da vivacidade que está deixando sua cálida alma, sinta a opacidade da falta de desespero, você não está mais se batendo no vidro. Sua respiração esfria e endurece, mas existe uma calmaria que a nossa certeza absoluta está lhe proporcionando. Sua energia está começando a se diluir, podemos prosseguir agora. Acompanhe-me, por favor.
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