Autorretrato - Quarenta e Oito - Julgo

        Fazia tempo que não aparecia por aqui. Andei me despindo de alguns pesos que me ancoravam num infortuno espaço nesse mundo. Mas tenho uma confissão a fazer, isso não me tornou alguém melhor.

        Estou intolerante, livrei-me de tantos julgamentos e atrasos que não suporto mais desagrados. E não estou nem mais a fazer o esforço de tentar, simplesmente não quero te carregar, seus medos e anseios, suas multas e dúvidas, seu veredito e seu desespero.

        Estou andando de maneira mais suave, com menos entraves, e por consequência não tenho mais te esperado. Ando agora no meu tempo, sem me obrigar a ter que permanecer ao seu lado. Tenho me respeitado.

        Estou reparando os nomes que andam me chamando. Sou a mais absurda invalidade que ousa existir, ou, em livre tradução, o medo que aterroriza os seus frágeis conceitos.

        Percebi que não tem dependido tanto de mim, afinal, todos tem tanto visto que cheguei à conclusão do que lhes indigna o perdão, virei um reflexo, livre da opacidade dos nossos hábitos assustadoramente construídos, para eles que tanto veem o reflexo de sua própria podridão.

        Afinal de contas, joguei fora o meu boleto de tantas cobranças numéricas para carregar o vencimento do dia. Não pode ser eu, sou um ser que não se atreve.

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