Autorretrato - Capítulo Quarenta e Seis - Pequeno conselho
Doce ruído magenta, fuja das cores que te confundem com a mundana comodidade que impede o amargo gosto da plenitude invadir as cabeças alienadas. Não se julgue melhor, mas não cometa o erro de se julgar pior, pois este é a deixa para a venenosa maldade invejosa te atropelar lentamente. Não se acorrente ao passado e nem ao presente, pois essa vida é fugaz, e estamos atrasados um segundo para estar nesse mundo.
Se
todos os conceitos que você compreendeu não entender te fizeram solidão,
aproveite para se abrigar na ilusão, isso vai fazer a vida te deixar em paz na
sua extrema agonia. Afinal, para estar assim como está, você já conseguiu
captar quão voraz são as nossas próprias inquietações, e quanto mais silêncio
buscamos, mais nos desconcertamos com os absurdos que aparecem silenciosamente
em um terror inatingível a nossa frente.
Deixe
as indagações sociais te cobrirem com uma armadura julgadora, pois assim
ninguém vai conseguir ver os horrores que te fizeram abandonar o espelho. Pois
esse espelho, espelho seu, consegue conter as maiores verdades e as maiores
mentiras na sua superficialidade. Continue sorrindo e mostrando um pouco de
beleza, isso vai desviar mais da metade das controladoras atenções.
Desculpe a frieza nos conselhos! Não precisa chorar o seu desespero,
pois você já sabe que ele nunca vai acabar. O mundo que você escolheu viver é
lindamente cruel, são poucos os escolhidos e os sobreviventes, e todos, sem
exceções e reconciliações, resilientes. Desculpe a honestidade, mas você já
caiu no abismo, e é difícil dizer que isso não te preocupa, que você acha a sua
loucura mais sã do que qualquer padrão aceitável e memorável.
Bem aí, rastejando nos chão é o lugar no qual pertencemos, com menos distração de peso, com mais proximidade ao desespero, é aí onde melhor nos vemos. Você já sabe que seu peso não pode conter a vazia leveza que caminha nas regras e vestes desse mundo. Você já sabe que seus gostos são absurdos, e existem poucos loucos que vão ter a sobriedade de concordar. Você já sabe que eu sou mais você do que a imagem que todos veem.
Comentários
Postar um comentário