Autorretrato - Capítulo Quarenta e Dois - O intruso

        É típico desse momento o seu comportamento, esse apego absurdamente inexplicável, inviavelmente justificável. Chega a ser ridículo te ver nessa posição, um tanto que ninguém consegue entender. Essa sua relação serve apenas para a sua sobrevivência. Acha que eu não sei disso?! Eu vejo a sua alucinação de piedade melhor que o seu constante devaneio. Não me perco nesses redemoinhos que você inventou, chego ao máximo a me nausear, não muito mais.

        Estou aqui para ser a sua salvação, para te fundir na minha escuridão até que você se perca no meio da multidão que eu apaguei. O que a sua banal esperança achou foram as palavras que você nunca conseguiu explicar. A sua morte foi apenas mais lenta, camuflada com as besteiras que nos enchi todos esses dias. Se você não tirou uma palavra de mim foi pelos meus cálculos exatos e obsessivos, que conseguem racionalizar até o ponto que eu não me comprometo.

        Quando permaneceu você concordou, deu-me a sua vida em troca de se convencer dessa mentira inescrupulosa, enquanto via a verdade que te aniquilava a cada vez que tudo isso você sustentava. Não sei dizer quem me ditou essas palavras, juro que não consigo mais ver, e é isso que me faz te enxergar tão bem, a minha completa falta de lucidez. Se você ainda está aqui vai conseguir se confundir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Autorretrato - Capítulo Vinte e Nove - Os pedidos lacrimejantes

Autorretrato - Capítulo Trinta e Seis - Permanência oscilante