Hipo(crê)sia - Nos moldes que vivemos

Eu sou jovem demais para saber o que sou. Sou uma desconfiguração sem moldes, sem os padrões tradicionais, sem esses entraves, sem graves traves. Só torna-se adulto quando se assume uma única forma, cheia de intolerâncias, cheia de desconfianças, cheia de experiência, cheia de magnitudes passadas e roupas lavadas. Não me querem como sou hoje. Não me querem como era ontem. Não me querem num possível amanhã. E depois de amanhã, mudo depois de ter mudado, já não sendo mais a mesma coisa, e querem exatamente aquele ontem, que nunca mais existirá. Essas pessoas vivem num mundo de resultados, de tabelas cumpridas, e se encontram no comando, exigindo que preenchamos as suas grades de verdades, que nos moldemos nos seus padrões, pois os únicos que dependem deles somos nós. A verdade é que eles querem que sejamos o que são, como pensam, pois assim sempre estarão na vantagem de nunca termos vivido o que eles viveram, pois nascemos em outros tempos, e cada vez mais perdidos, pois não temos as batalhas que um dia existiram, nossos medos são outros, nossos pensamentos são outros, nossa vantagem é outra. Mas isso não interessa saber entender, pois o mundo é deles e a vitória é deles, pois a herança é antes deles, não interessa o que virá, nem o que ele vira, mas o que fica, o que desvaloriza.

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