Autorretrato - Capítulo Trinta e Três - O preço que se alarga

        Aquele inchaço de ego inflado a incomodava, aquela felicidade quando viam seus olhos afundados a perturbava, aquela questão de fazê-la lidar com as guerras internas dos outros para cima do que viam nela, e que não enxergavam neles, matava-a nos estilhaços que ela ficava tentando juntar.

        A insanidade lhe subia à cabeça, descolava a retina, embaralhava as ideias, e a cabeça ficava muito pequena para tanta desordem. Era loucura ela só poder ver com os seus olhos. Era loucura seu estômago ficar na sua boca, seu peito e seus olhos para trás da sua cabeça, e sua cabeça pesada para baixo dos seus pés.

        Ela se matava para conseguir ficar em seu juízo, para tentar colocar a cabeça sob seus pés. Como se não bastasse o seu psicodelismo, as distorções dos outros lhe davam um nó na garganta, a comida não entrava e as palavras não saiam; o que se forçava a romper essa barreira estilhaçava uma parte dela que segurava essa incontinência, nessa negligência fantasiada de regras para a inteligência civilizada no poder massacratório das autoridades hierárquicas.

        O mais difícil de tudo é saber se matar tão bem, deixar-se caída no chão sem piedade.

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