Autorretrato - Capítulo Vinte e Oito - O gosto do desajeito
E então nada! Era como estar gritando sons numa dicção mirabolantemente incompreensível aos ouvidos humanos. Era uma bateção descontrolável. Era uma engasgação abominável. E era tudo junto, confusamente coordenado para fazê-la de marionete dessa esquisitice capenga.
Comedidamente ela caía e se batia. Tentava passar despercebida, e
conseguia. O que não conseguia se desaperceber era esse desajeito com o mundo,
com todo mundo. Ela permanecia assim, totalmente insana, com muita energia para
dissipar em sua autodestruição.
Nenhuma emoção fragilizada ousava dar as caras nesse momento. Nem sua
aflição, com suas incapacidades, saía para deixá-la mais leve. Ela ficava
rolando de um lado para o outro como um joão bobo, com aquele mesmo sorriso
plástico.
Ela
achava que já não sabia mentir tão bem como um dia fizera. Seus olhos só viam
decepção em si. Ela pôde se encontrar em tantos sentidos que isso afetou seus
sentidos, isso significava não alcançar certas coisas por saber suas escolhas.
E tudo parecia tão incompativelmente exato.
E continuava se culpando. Ela se olhava mais
no espelho nesse momento, pois a ação lhe fazia mais sentido do que sua
obsessiva compulsiva intelectualidade conseguia negar. Era óbvio, ela se via
assim, seu reflexo externo incansavelmente materializado numa superfície fria.
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