Autorretrato - Capítulo Vinte e Seis - As paredes da continuidade
Ela voltou aos velhos hábitos, e quanto mais prazerosa a nostalgia, mais cortante era a realidade, cruelmente conduzida por suas bruscas escolhas presentemente feitas.
Era
bom ver as mudanças, ver que certos horrores, que pareciam a atormentar, haviam
mudado, e, já no final dessa sentença, a voz do pensamento ia murchando e
ficando roucamente presa no peito. Apenas mudado, agora os fantasmas eram
outros.
Ela
via o movimento e seu fluxo livre, sob o qual ela não tinha controle, apenas
rebolava desesperadamente para tentar segurar o bambolê um pouquinho mais.
O
terreno da areia movediça havia passado, e agora ela estava encarando aprender
a andar novamente, com todo o peso de uma pausa massantemente impulsionadora da
saída. O peso era de já saber andar e parar, era a passagem do tempo, era o
tropeço da consciência quando olhava no espelho. Custou-lhe entender toda
aquela ida.
E
nessa viagem presente ela piscava incessantemente, e nenhuma lágrima ousava
sair de seu imenso refúgio, ela respirava incisivamente, e nenhuma partícula
oxigenava seus pensamentos em outra direção, ela engolia compulsivamente, e
nenhum nó escorria garganta abaixo. Ela estava estaticamente no presente de seu
passado que tanto parecia ter um certo futuro.
Era
tudo exatamente como ela tinha feito. E o que tanto a chocava nessa
previsibilidade? Ela mesma nas paredes que construiu?!
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