Autorretrato - Capítulo Quinze - Vivacidade pálida

        A vida estava a dilacerando e suspendendo por sorrisos em instantes tão imediatos, que a temporalidade de seus sentimentos ficava sem conseguir distinguir a diferença entre momentos, pois seus olhos não enxergavam a diferença na ambientação do seu estado de espírito; eram cortes que custavam ir para o limbo pela dor na intensidade dos acontecimentos.

        Todo o fluxo contínuo e contido que a permeava, e se tornava ela, confrontava-se com a instabilidade da mudança superficial, inútil em sua superficialidade de não atingir as profundezas. Ela parecia estar numa corda bamba, onde as pausas são mais instáveis que os desatinos surtos de movimento.

        Entre todas as instabilidades, pareciam que dois polos, mais ou menos distantes, instauravam-se na necessidade humana de categorizar as coisas, como uma possível explicação de suas características; e nesse aspecto ela era bem humana. Eram duas linhas tênues: as que dilaceravam seu âmago, fazendo-a trepidar em seus deslizes; e as que moviam, que a dilaceravam para um outro, onde as tentativas de mudança resvalavam nos velhos hábitos para se atualizarem como novidades em seus flashes de atos reflexivos.

        Ela sonhava com a simplicidade e a realidade da desesperança, tão lógica e viva em sua palidez.

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