Autorretrato - Capítulo Sete - O reflexo do âmago apoiado

    O choro engasgou sua garganta e abaixou seus olhos abertos na imagem do reflexo da imagem. Foi assim que se sentiu reverberar no mundo, algo que existia e vivia porque tinha que estar ali, mas não se dava conta de que era, mesmo não querendo isso, a todo momento.

    A escolha da liberdade estava a atacando mais do que o peso dos seus conflitos, não sabia ou não queria saber por que era tão difícil deixar de se martirizar e se culpar pelo que achava que queria ser.

    No ciclo vicioso estava a estabilidade da culpa, a fuga do enfrentamento de ser porque se está. As coisas não perderam o sentido, ela passou a ser uma coisa. E até que ponto ia todo esse medo externo do julgamento, dos outros olhos e olhares?! O medo pela desconfiança se alastrava nos seus bloqueios, no seu afastamento e no seu silêncio.

    Escolheu-se então o apoio, um apoio que achava dolorosamente não vir de outros, mas que partiu internamente de si para se concretizar no espaço coletivo. Na entrega ela se autogerou no ambiente que tanto lhe parecia hostil em sua sensibilidade caolha, mas no qual ela se apoiou para mover suas questões internas.

    Ela se entregou para se perder em si, sem pensar em quem a observava, mas vivendo quem tocava seu âmago exterior.


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