Autorretrato - Capítulo Cinco - O anúncio movediço
Então
aconteceu o primeiro anúncio público, talvez não feito antes em voz alta para
si mesma com aquele confiante peso dolorido e pulsante no meio, abrigado pelo
assimétrico e não linear circundar de sua caixa torácica. Foi a primeira coisa
que ela pôde pensar... e a última que pôde negar. O coração pulsou em disparate
puxando consigo o esterno e o pulo das palavras em sua cabeça. Foi um anúncio
que colocou ânsias e desesperos na pronuncia, mudando a opacidade dos seus
olhos e da cor que sentia; mais áspera, mais viva, mais intensa e mais leve em
favor da gravidade.
Mas um
erro foi cometido: achar que as mudanças não são espiraláveis pelos
acontecimentos da vida. Tudo voltou a não ter um propósito por instantes. Era
apenas uma manhã de domingo, límpida, vívida, brilhante e colorida. Todos os
momentos angustiantes pelas ausências que encontrava tinham a mesma qualidade
tonal desse domingo.
"O nonsense voltou. Não me perguntei o porquê de tudo, pois o tudo
fazia sentido como um nada. Senti-me sem nada, e precisando de nada, onde o
findar passa de possibilidade para solução; sendo o que ‘eu não me importo’ no
meio das opiniões. E se eu parei nesse estágio sem achar que conheço os
outros?!"
Percebeu-se que a variedade de sua escrita era vaga, assim como seu
incessante desejo flutuante e constantemente harmônico em suas idealizações,
por mais contraditório que fosse. Era o que queria tecer, como uma rede,
infinita e eterna, aberta em sua grandiosidade e complexidade, entendível pelas
suas variantes, e mutável por sua interconectividade relacional.
As coisas pareceram como o elástico do seu shorts... sempre dobrava, meio que no mesmo lugar, cada vez de uma maneira diferente, mas sempre em um lugar conhecido, tendendo a ser flexível para os mesmos diferentes locais. Talvez assim o fosse, naquele instante.
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